Bolsonaro nega controlar campanha de empresas no WhatsApp
A prática, ilegal, foi revelada pela Folha de S.Paulo nesta quinta (18) e levou o PT a entrar com ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
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Política Eleições
O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, afirmou não ter controle sobre a compra de pacotes de mensagens de WhatsApp por empresas para disseminar material antipetista.
A prática, ilegal, foi revelada pela Folha de S.Paulo nesta quinta (18) e levou o PT a entrar com ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
"Não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso. Sei que fere a legislação. Mas não tenho controle, não tenho como saber e tomar providência", disse Bolsonaro ao site O Antagonista.
O candidato sugeriu que as ações viriam de detratores: "Pode ser gente até ligada à esquerda que diz que está comigo para tentar complicar a minha vida me denunciando por abuso de poder econômico".
A reportagem da Folha de S.Paulo mostra que empresas como a varejista Havan estão bancando pacotes de milhões de disparos de mensagens no aplicativo com conteúdo crítico ao PT e preparam uma megaoperação para a próxima semana.
O dono da Havan, Luciano Hang, negou à reportagem ter conhecimento da prática.
A revelação levou o PT a entrar com ação no TSE contra Bolsonaro e seu vice, general Hamilton Mourão, além de Hang, de quatro empresas que trabalham com mensagens em massa (Quickmobile, a Yacows, Croc Services e SMS Market) e do Facebook, dono do WhatsApp.
"O presente caso trata do abuso de poder econômico e uso indevido dos veículos e meios de comunicação digital perpetrados pelos representados, uma vez que estariam beneficiando-se diretamente da contratação de empresas de disparos de mensagens em massa", diz o documento.
Citando condutas vedadas pela lei eleitoral, a ação pede a inelegibilidade de Bolsonaro e a suspensão do envio de mensagens políticas por agências.
Além do PT, o PDT vai entrar entrar com ação no TSE alegando fraude eleitoral, afirmou o presidente da legenda, Carlos Lupi. O candidato do partido, Ciro Gomes, ficou em terceiro lugar no primeiro turno, e, ante as revelações, Haddad sugeriu disputar com ele a próxima etapa, dia 28.
O candidato petista defendeu prender um dos empresários que pagou pelos pacotes de mensagens para desbaratar o que chamou de "quadrilha" envolvendo "20 ou 30 empresários". "Basta prender um empresário, que vai ter delação premiada e vão entregar a quadrilha toda", afirmou.
Em Curitiba, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, qualificou os fatos como "muito graves". "Ficou claro que esse candidato [Bolsonaro] foi construído através da mentira, nos subterrâneos das redes sociais, através de dinheiro de caixa dois. É um embuste."
Gleisi alega que a prática caracteriza lavagem de dinheiro e fraude. "Isso mostra que a onda que se teve não foi uma onda de convencimento do eleitorado pelas causas ou pela proposta do candidato, mas foi construída nos subterrâneos da internet com uma fábrica de mentiras", afirmou, acusando Bolsonaro de ser "irresponsável e ausente".
A presidente do TSE, ministra Rosa Weber, convocou a imprensa para tratar de fake news na campanha eleitoral nesta sexta (19). Antes, ela cobrara dos candidatos medidas medidas para conter a onda de mentiras em aplicativos.
Em redes sociais, seu habitat preferencial, Bolsonaro afirmou que o PT espalha notícias falsas e não é prejudicado por conteúdo mentiroso, mas pela verdade. "Roubaram o dinheiro da população, foram presos, afrontaram a Justiça, desrespeitaram as famílias e mergulharam o país na violência e no caos", escreveu.
O PSL deve processar Haddad. "Vamos ver se eles conseguem provar o que estão falando: caixa 2, doações ilegais, isso está muito longe do PSL, do candidato Jair Bolsonaro", afirmou o presidente do partido, Gustavo Bebianno.
Ele classificou a tentativa do PT de impugnar a candidatura de "sinal claro de profundo desespero". "O sr. Haddad precisa saber que denunciação caluniosa é crime e ele vai ter que responder por isso."
Questionado sobre contratar empresas para disseminar mensagens, Bebianno negou.
"Nunca fizemos qualquer tipo de impulsionamento. Nosso crescimento é orgânico", afirmou. "Como ele [Bolsonaro] tem esse diálogo direto e verdadeiro com a população, é um trabalho voluntário feito por pessoas pelo Brasil afora, coisa que o PT não tem."
Além da investigação de abuso de poder econômico e suposto uso de caixa 2 –a compra dos serviços é doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral–, o candidato do PT cobra explicações do WhatsApp.
"Cabe ao TSE tomar as medidas. Tem três personagens envolvidos: quem pagou [as mensagem], quem disparou, e o próprio WhatsApp, que é uma tecnologia, mas tem que estar a serviço da democracia", disse Haddad em entrevista à rádio Globo nesta quinta (18).
"Tem que chamar o WhatsApp imediatamente, porque todo mundo está dizendo que tem uma encomenda de disparo [de mensagens contra minha candidatura] para a próxima semana." Com informações da Folhapress.