OAB e entidades de imprensa criticam ataque de Bolsonaro a jornalista
Presidente volta a dizer que reportagem do UOL é 'fakenews!'; site de apoiadores do presidente fez nova ofensiva nesta segunda com divulgação de postagem falsa
© Marcos Corrêa/PR
Política Fake News
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Entidades repudiaram o ataque feito no domingo (10) pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) contra uma repórter do jornal O Estado de S. Paulo com base no relato deturpado de uma conversa.
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) divulgaram nota na qual dizem que "quando um governante mobiliza parte significativa da população para agredir jornalistas e veículos, abala um dos pilares da democracia, a existência de uma imprensa livre e crítica".
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Em sua conta oficial no Twitter, Bolsonaro publicou que a jornalista Constança Rezende disse "querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro" e divulgou um áudio dela com uma pessoa não identificada. A transcrição da gravação não coincide com a interpretação que o presidente faz das falas.
A gravação havia sido publicada pelo site Terça Livre, alimentado por apoiadores de Bolsonaro e que, nesta segunda (11), fez novo ataque à jornalista com a divulgação de uma postagem falsa.
Em nota, a Abraji e a OAB afirmam que a publicação feita pelo presidente é uma tentativa de intimidação.
"Isso mostra não apenas descompromisso com a veracidade dos fatos, o que em si já seria grave, mas também o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas, uma atitude incompatível com seu discurso de defesa da liberdade de expressão", afirmam.
A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) disse em nota repelir "com indignação" as ameaças à jornalista e que as considera "grave ofensa ao livre exercício profissional, à liberdade de imprensa e à própria democracia".
"A ABI volta a lembrar ao Supremo Mandatário que a liturgia do cargo que ocupa exige equilíbrio, serenidade, linguagem moderada e altivez", afirma o comunicado assinado pelo presidente da associação, Domingos Meirelles.
Em nota assinada pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádios e Televisão (Abert), Associação Nacional de Editores de Revista (Aner) e Associação Nacional de Jornais (ANJ), as entidades lamentam que "o presidente da República reproduza pelas redes sociais informações deturpadas e deliberadamente distorcidas com o sentido de intimidar a jornalista e a liberdade de expressão".
"Os ataques à repórter têm o objetivo de desqualificar o trabalho jornalístico, fundamental para os cidadãos e a própria democracia", afirmam.
Na gravação divulgada por Bolsonaro, a repórter fala em inglês sobre o caso de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro que recebia dinheiro de outros assessores. No trecho divulgado pelo presidente, ela diz que o caso "pode arruinar Bolsonaro".
Em texto sobre o episódio, O Estado de S. Paulo disse que a jornalista "não fala em 'intenção' de arruinar o governo". "A repórter avalia que 'o caso pode comprometer' e que 'está arruinando Bolsonaro', mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido."
A interpretação deturpada da conversa foi inicialmente publicada pelo site Terça Livre.
Nesta segunda-feira, o site voltou a atacar a mesma jornalista em uma live no Twitter. Allan dos Santos, que apresenta o vídeo, exibe um tuíte falso atribuído a Constança Rezende. A conta verificada da repórter na plataforma tem outro endereço -e a mostrada na live está suspensa da plataforma.
A postagem atribuída indevidamente à repórter dizia que "o Brasil virou uma ditadura" e que "morte como a da Marielle deixou bem claro isto".
A divulgação foi feita por Allan após ele afirmar que havia pessoas acusando problemas de tradução dos áudios. "Vamos ver de quem nós estamos falando. Nós estamos falando dessa jornalista aqui", afirmou, ao exibir o tuíte. A reportagem não obteve resposta dele até a publicação deste texto.
O site francês Mediapart afirmou na tarde desta segunda-feira que o autor do texto sobre Constança publicado em um blog da plataforma usou informações falsas.