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Ida de Bolsonaro aos EUA concretiza alinhamento ideológico com Trump

Presidente embarcou para os Estados Unidos na manhã de hoje (17)

Ida de Bolsonaro aos EUA concretiza alinhamento ideológico com Trump
Notícias ao Minuto Brasil

09:27 - 17/03/19 por MARINA DIAS E PATRÍCIA CAMPOS MELLO

Política à direita

A visita do presidente Jair Bolsonaro aos EUA nesta semana concretiza o alinhamento ideológico do governo brasileiro ao de Donald Trump, mas deve terminar com poucos resultados práticos.

Bolsonaro corre o risco de sair de Washington, onde desembarca neste domingo (17), sem seu maior trunfo na política externa: o apoio formal dos EUA para a candidatura do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Acordos comerciais concretos, como o de livre-comércio e o fim da bitributação, além da inclusão do Brasil no programa de isenção de vistos para entrar nos EUA, também não devem resultar do encontro entre Bolsonaro e Trump, marcado para a terça-feira (19), na Casa Branca.

O Brasil, por sua vez, vai liberar da necessidade de visto os americanos que querem entrar no país, mesmo sem ter o mesmo gesto em troca. O chanceler Ernesto Araújo quer conversar sobre o tema com autoridades dos EUA, mas não demonstra otimismo para um acordo rápido –12,73% dos brasileiros tiveram seu pedido de visto para o país negado em 2018.

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A entrada na OCDE, o clube dos países ricos, é reivindicada pelo Planalto desde 2017 e serviria como reforço das credenciais reformistas do governo Bolsonaro. As negociações, porém, encontram resistência no governo dos EUA.

Enquanto o secretário de Estado, Mike Pompeo, é favorável ao pleito do Brasil –ensaiou escrever uma carta a Trump pedindo seu apoio ao ingresso brasileiro–, o USTR, Escritório do Representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, advoga contra.

Segundo pessoas que participam das tratativas, o USTR avalia que o Brasil não é comercialmente confiável, e parte do governo americano se posiciona com cautela quando o tema é ampliar a OCDE, hoje com 35 países.

Existe ainda pressão de setores empresariais, como a indústria farmacêutica, para que o Brasil faça algumas reformas antes de ser admitido.

Dentro do governo brasileiro, a aposta passou a ser em Bolsonaro pedir o apoio diretamente a Trump. A avaliação é que o americano é impulsivo e pode acabar fazendo o gesto a despeito da resistência de seus assessores.

Foi isso que ocorreu com a Argentina. Em abril de 2017, o presidente Mauricio Macri se reuniu com Trump e fez o pedido ao líder americano.

Ao lado de assessores contrários à ideia, Trump simplesmente declarou que iria apoiar a admissão do país. .

A diferença desta vez é que, ao contrário de Macri, o brasileiro não fala inglês e deve contar com intérpretes, o que prejudica a conversa.

Auxiliares de Trump lembram ainda que o americano não tem fama de ser paciente e pode, inclusive, querer encurtar o encontro caso ele não se desenrole tão bem.

Outro assunto que será abordado na reunião, porém sem grandes avanços efetivos, é a crise na Venezuela, tema de verdadeiro interesse de Trump na América do Sul.

O americano pode sondar Bolsonaro para apoiar uma intervenção no país, mas a ala militar do Planalto garante que não mudará de posição quanto a se ater à ajuda humanitária na fronteira –porém, pode anunciar sanções aos venezuelanos.

Um dos poucos acordos concretos deve ser o de salvaguardas tecnológicas, que permitirá o uso comercial da base de Alcântara (MA). Com ele, o Brasil poderá faturar até US$ 10 bilhões ao ano, segundo Ministério da Defesa, alugando o local para lançamentos de satélites.

No entanto, após assinado, o acordo ainda precisa ser aprovado pelo Congresso. Da última vez que foi assinado com os EUA, em 2000, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o texto foi barrado pelos parlamentares, inclusive pelo então deputado Jair Bolsonaro. A linguagem do novo tratado foi modificada para tentar atenuar a ingerência dos EUA e aumentar a probabilidade de aprovação.

Além disso, serão fechadas parcerias na área de segurança, inteligência, militar e aeroespacial – uma delas é um acordo entre o Inpe, Ita e Nasa para construir um satélite. O Brasil também deve deve reduzir as tarifas de importação do trigo dos EUA.

Como antecipou a Folha de S.Paulo, os EUA ainda devem anunciar, durante a visita, que o Brasil passará a ter o status de "major non-NATO ally" –aliado prioritário extra-Otan.

A designação cabe a países não membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que são aliados estratégicos militares dos EUA. Assim, o Brasil passa a ter acesso a vários tipos de cooperação militar e tecnologica.

A influência chinesa na América Latina, uma grande preocupação de Washington, também deve entrar na pauta. Os EUA vêm pressionando aliados a vetarem a compra de equipamentos da gigante de telecomunicações Huawei, acusando a empresa de fazer espionagem para Pequim.

Havia frustração entre empresários com a falta de anúncios concretos na agenda comercial, como mostrou a Folha de S.Paulo. Para tentar entregar algo, o grupo de entidades empresariais circulou um relatório na Casa Branca e no USTR com sugestões de medidas que poderiam ser fechadas sem aprovação do Congresso –algumas de convergência regulatória, eliminação de barreiras técnicas e combate a corrupção no setor privado.

A agenda de Bolsonaro nos EUA também vai acenar à sua base eleitoral: ele vai participar de um jantar conservadores, dará entrevistas à imprensa evangélica e se reunirá com investidores e empresários.

O presidente chega a Washington com uma comitiva de seis ministros, entre eles Paulo Guedes (Economia), Sergio Moro (Justiça), Augusto Heleno (GSI), além do chanceler. Com informações da Folhapress.

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