Sob pressão, DEM manda recados ao Planalto
O DEM se posicionou como o partido da moderação na cena política, que defende a agenda econômica, mas não dá um cheque em branco ao governo
© Sivanildo Fernandes/ObritoNews
Política Planalto
Em convenção marcada por recados ao Palácio do Planalto, o DEM procurou se apresentar nesta quinta-feira, 30, como o partido da moderação na cena política, que defende a agenda econômica, mas não dá um cheque em branco ao governo. Embora ministros da equipe de Jair Bolsonaro estivessem no palco, dirigentes da sigla fizeram questão de delimitar ali as responsabilidades do Planalto e do Congresso.
O único a pregar publicamente a entrada do DEM na base aliada de Bolsonaro foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. O apoio formal ao governo, porém, passou longe de qualquer votação, apesar de o DEM ocupar três ministérios (Casa Civil, Saúde e Agricultura) desde janeiro.
Sob o slogan "O Brasil não pode parar", a convenção que renovou por mais três anos o mandato do prefeito de Salvador, ACM Neto, no comando do DEM, também serviu para defender o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticado nas manifestações pró-governo, há cinco dias.
No auditório Nereu Ramos da Câmara, deputados, senadores e até o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, fizeram uma espécie de desagravo a Maia. Além disso, o DEM pôs em prática a estratégia retórica para se desligar do Centrão, grupo que reúne cerca de 230 dos 513 deputados e tem sido alvo de ataques nas ruas e nas redes sociais. Maia é visto como o principal articulador do Centrão, que abriga partidos como DEM, PP, PR, PRB, MDB e SD.
No dia em que o IBGE anunciou queda de 0,2% no PIB do primeiro trimestre, o presidente da Câmara defendeu a votação de propostas para estimular o crescimento. Por sugestão do deputado, a convenção do DEM aprovou uma moção de apoio à reforma da Previdência.
Logo após Caiado pedir "encarecidamente" que o DEM entrasse na base de sustentação do Planalto, sob o argumento de que "o partido não pode dar uma de Pôncio Pilatos e lavar as mãos", Maia disse que ser ou não ser governo é o que menos importa.
"O mais importante é ser a favor de uma agenda", insistiu ele. "E não é tudo responsabilidade do Parlamento. Vamos separar as responsabilidades. Não podem transferir todas as responsabilidades e todos os males para a Câmara."
ACM Neto seguiu na mesma toada ao afirmar que o DEM não podia "gastar energia" com o debate sobre a adesão ao governo. "Conclamo que não percamos tempo com aquilo que não vai nos levar a nada", resumiu. Para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), o DEM tem ajudado mais Bolsonaro do que o próprio PSL, partido do presidente. "Não estou fazendo crítica. É uma constatação", afirmou.
Após tantas estocadas, Caiado admitiu não ter maioria para sua tese. "Fui vencido hoje, mas continuo dizendo que não vai adiantar falar amanhã, se houver algum insucesso, que não estávamos umbilicalmente ligados ao governo", comentou.
'Velha guarda'
Diante de uma plateia formada por deputados, senadores e também pela "velha guarda" do PFL, sigla que deu origem ao DEM, ACM Neto disse não ser possível pensar em retomada do crescimento sem fortalecer as instituições. Com planos de se candidatar ao governo da Bahia, em 2022, ele afirmou, ainda, que os brasileiros não foram às urnas, no ano passado, para defender radicalismos, "nem de direita, nem de esquerda".
Foi, na prática, um recado para Bolsonaro, que, no diagnóstico de partidos do Centrão, estimulou os ataques ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos atos de domingo. Nem mesmo a proposta de pacto entre os Poderes, patrocinada por Bolsonaro, serviu para acalmar os ânimos. Agora, a ideia também é alvo de críticas dentro e fora do Congresso.
"A política existe para evitar a guerra", amenizou ACM Neto. Em mais um movimento para descolar o DEM do Centrão, ele não escondeu o incômodo com a pecha de fisiologismo que marca as ações do grupo. "Nunca admitimos o troca-troca da velha política. O DEM não aceita rótulos e muito menos carimbos", disse.
Bolsonaro
Em discurso inflamado na convenção do DEM, o ministro Onyx Lorenzoni insinuou nesta quinta que o presidente Jair Bolsonaro pode voltar para o partido. Bolsonaro se filiou ao PSL no ano passado para disputar o Palácio do Planalto, mas, em 2005, chegou a integrar as fileiras do PFL, hoje DEM.
"Temos um ex-filiado do PFL, do DEM, que olha para o nosso partido com imenso respeito e com olho de, quem sabe, querer voltar para casa", afirmou Onyx. Em conversas reservadas, Bolsonaro já reclamou mais de uma vez de problemas enfrentados no PSL, que tem uma bancada de novatos no Congresso e muitas vezes atua como oposição ao Planalto. Interlocutores do presidente já disseram que ele avalia a possibilidade de deixar o PSL.
Questionado se havia conversado com Bolsonaro sobre o retorno ao DEM, Onyx abriu um sorriso. "Não. É um sonho meu", respondeu ele. O presidente já trocou várias vezes de partido desde o início de sua carreira política, nos anos 1980.
Em vários momentos, Onyx ficou com a voz embargada ao discorrer sobre a trajetória do DEM e disse que Bolsonaro foi "o escolhido" por Deus para fazer a "transformação" do País e ser o alicerce de uma aliança "liberal-conservadora". "A esperança, na época deles, era vermelha. A nossa é verde-amarela", discursou o ministro.
Alvo de críticas por causa da fragilidade da articulação política do governo, Onyx definiu os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), como "duas bênçãos que Deus trouxe para ajudar o capitão Bolsonaro". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.