Fapesp: Plataforma eletrônica permite que agricultores aluguem colmeias
Sistema desenvolvido por startup coloca em contato apicultores e produtores interessados em aumentar produção no campo
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Tech Fapesp
Uma plataforma eletrônica que coloca em contato criadores de abelhas com agricultores interessados em alugar colmeias dos insetos polinizadores para aumentar a produção no campo, desenvolvida pela startup Agrobee, tem permitido que produtores de café registrem um aumento médio de 17% pelo uso do serviço durante as semanas da florada.
Os técnicos da empresa, apoiada pelo Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, constataram a partir de uma análise em 20 talhões diferentes de café onde as colmeias foram instaladas que a produção média por hectare das propriedades teve um aumento na safra de 8,8 sacas – o que representa uma economia média de R$ 3.960 por hectare ao proprietário rural.
Esses resultados positivos demonstrados no campo pela Agrobee passaram a chamar a atenção de investidores. No início de julho, a empresa fechou um acordo com o clube de investimentos Agroven, administrado por famílias do agronegócio interessadas em promover o desenvolvimento tecnológico do setor. O aporte de recursos possibilitará à empresa escalonar o projeto.
“O aporte permitirá o desenvolvimento de novas ferramentas do aplicativo”, explica a pesquisadora Andresa Berretta, uma das sócias da empresa, ao boletim Pesquisa para Inovação, da Fapesp.
Ferramentas
Uma das novas ferramentas possibilitará que os técnicos da Agrobee avaliem a qualidade das colmeias que serão alugadas por meio de fotografias enviadas por um celular pelos produtores. Hoje, isso é feito presencialmente, o que gera custo e perda de velocidade na liberação dos insetos.
“Nossa ideia com essa nova ferramenta é poder ampliar os serviços para todo o Brasil”, diz a pesquisadora. Outra possibilidade trazida pelo investimento é fazer com que os melhores criadores de abelhas catalogados no aplicativo tenham condições de multiplicar suas próprias colmeias, o que vai gerar um serviço ainda mais produtivo para quem alugar as caixas.
“Nos Estados Unidos, é comum carretas inteiras carregarem as colmeias. Aqui ainda não temos essa possibilidade. Por isso, essa assistência aos criadores será importante para aprimorar toda a cadeia apícola nacional”, afirma Berretta.
Além do café, que com a presença das abelhas no campo registra aumento de produção e grãos mais doces, a expectativa dos empresários é que outras lavouras também passem a fazer parte do dia a dia dos negócios da empresa.
“Nos próximos dois anos, temos a intenção de conectar os apicultores com produtores de soja, laranja, morango e girassol”, diz a empresária.
Os testes iniciais feitos com a cultura do morango também revelam um caminho promissor. Neste tipo de lavoura, a equipe da empresa constatou que a presença das abelhas aumentou em 12,7% o peso médio dos frutos e em 19,2% o seu dulçor.
Outro ponto importante em relação aos morangos é que, sem os insetos, a deformação do produto é muito alta (76,6%). Com a polinização, esse índice regrediu para 23,4%, o que aumenta o valor de venda para o produtor.
Acompanhamento integral
O trabalho da Agrobee não envolve apenas a conexão entre criadores de abelha e agricultores que estejam em uma mesma área geográfica, assim como os aplicativos de mobilidade urbana usados nas grandes cidades.
A equipe da empresa também cuida de toda a qualidade da operação, o que significa, segundo Diego Moure Oliveira, biólogo e pesquisador do grupo, desde a escolha das espécies corretas para determinada lavoura até o local exato onde a instalação das caixas com os insetos deve ocorrer.
“É interessante ter sombra e fonte de água para as abelhas enquanto elas estiverem na lavoura”, explica o biólogo ao Pesquisa para Inovação. A qualidade das colmeias também é examinada em detalhes pela equipe da Agrobee. Elas não podem, por exemplo, chegar à fazenda já enfrentando inimigos naturais dentro de casa, o que vai aumentar o estresse dos insetos e baixar a eficiência da polinização.
A proximidade geográfica entre as duas pontas da cadeia, segundo os técnicos, também é fundamental. Quanto menor o tempo de deslocamento, menos impacto isso terá sobre a saúde dos polinizadores. A empresa, que espera chegar aos mil hectares sob cuidados das abelhas neste ano, usa tanto espécies nativas, sem ferrão, quanto as africanizadas.
Os desdobramentos da proposta da Agrobee também podem gerar ganhos ambientais, segundo Berretta. Ao criar uma cultura em prol da polinização natural, afirma a pesquisadora, os produtores podem controlar melhor o que será usado para combater as pragas. “Ao introduzir as abelhas em suas propriedades, os produtores também passam a usar defensivos agrícolas de forma mais racional”, avalia.
Outro ganho é em relação às mudanças climáticas. Com mais produção por hectare, a necessidade de ampliar a área de lavoura e, consequentemente, gerar algum tipo de desmatamento por queimada ou para conversão do uso da terra tende a diminuir.
Com informações do Governo do Estado de São Paulo.