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Descoberta científica altera árvore genealógica de cobras e lagartos

Pesquisa revelou réptil que retém traços que não existem em cobras e lagartos atuais

Descoberta científica altera árvore genealógica de cobras e lagartos
Notícias ao Minuto Brasil

15:59 - 30/05/18 por REINALDO JOSÉ LOPES para Folhapress

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REINALDO JOSÉ LOPES - Há 240 milhões de anos, antes que os dinossauros iniciassem sua escalada rumo à dominação planetária, viveu um pequeno réptil que deixou uma herança de respeito: as cerca de 10 mil espécies atuais de lagartos, serpentes e anfisbenas (também conhecidas como cobras-de-duas-cabeças). Um novo estudo mostra que o bicho, achado no norte da Itália, é o exemplar mais antigo desse grupo, o dos Squamata ("escamados").

O Megachirella wachtleri, como foi batizado pelos cientistas, ganhou esse status especial ao ser reexaminado por meio de uma técnica de tomografia computadorizada conhecida como micro-CT.

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"O espécime foi preservado de forma que somente a parte dorsal do corpo ficou exposta, com toda a parte ventral embutida no pedaço de rocha", explicou à reportagem o paleontólogo brasileiro Tiago Simões, coordenador do estudo.

"A micro-CT nos permitiu ver pela primeira vez como era a anatomia do ventre do fóssil, incluindo dados que foram essenciais para reconhecer essa espécie como um lagarto." Simões, que trabalha na Universidade de Alberta, no Canadá, assina o artigo na revista científica "Nature" detalhando as descobertas, junto com colegas de instituições da Europa, da Austrália e dos EUA.

Algumas das características exclusivas de lagartos que aparecem no bichinho italiano são a forma da clavícula, com uma curvatura secundária, e o fato de que um dos ossos do pulso se funde ao primeiro metacarpal (equivalente a um dos ossos da mão, logo abaixo dos dedos, em humanos). Por outro lado, como o animal é muito primitivo, ele ainda retém traços que não existem em cobras e lagartos atuais, como a presença das chamadas gastrália, ou costelas na região da barriga.

A descoberta da nova cara do fóssil foi só parte do trabalho, porém. A equipe fez ainda um monumental estudo comparativo, cotejando as características do Megachirella wachtleri com uma grande variedade de répteis extintos e modernos. No caso das espécies atuais, eles também fizeram uma análise comparativa de variantes de DNA.

Esse caminhão de dados foi usado para montar um mapa da diversificação dessas espécies ao longo de milhões de anos, confirmando a posição do bicho de 240 milhões de anos como o mais antigo dos Squamata. E bota mais antigo nisso, aliás - ele é 70 milhões de anos mais velho que os fósseis antes apontados como os primeiros representantes do grupo.

Há, portanto, um buraco grande a ser preenchido na história evolutiva de lagartos, serpentes e companhia, o que na verdade seria de se esperar mesmo, segundo Simões. "Pequenos vertebrados são mais difíceis de serem preservados como fósseis do que os grandes", explica. "Além disso, há muito menos pesquisadores trabalhando com Squamata fósseis do que com dinossauros ou mamíferos. Também pode ser que existam lagartos fósseis que ninguém notou até agora em coleções de museus mundo afora."

A idade do Megachirella wachtleri também sugere que os ancestrais de lagartos surgiram um pouco antes da maior extinção em massa da história da Terra, a do Permiano-Triássico. Na época, outros grupos de vertebrados terrestres dominavam o planeta, mas extinções em massa costumam deixar uma grande quantidade de nichos ecológicos vagos - ou seja, fazem com que diferentes estilos  de vida fiquem disponíveis para os poucos sobreviventes da catástrofe.

Como eram de pequeno porte e comedores de insetos, que estão sempre disponíveis mesmo em ambientes mais pobres, os ancestrais dos Squamata conseguiram passar pelo gargalo da megaextinção e se diversificar paulatinamente nos períodos seguintes. Com informações da Folhapress.

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