Norah Jones fala de conexão especial com Brasil em 1º álbum ao vivo
No mês passado, a cantora americana lançou o álbum "Til We Meet Again" (até que nos encontremos de novo), seu primeiro disco ao vivo
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Norah Jones, 42, não sabe quando nos encontraremos de novo, mas quis garantir que sua voz suave não deixasse de soar por aí. No mês passado, a cantora americana lançou o álbum "Til We Meet Again" (até que nos encontremos de novo), seu primeiro disco ao vivo.
"Não sei quando poderemos nos encontrar de novo, mas foi a primeira coisa que pensei quando decidimos lançar esse registro ao vivo", diz Jones ao F5. "É um pouco triste, mas também esperançoso. Não sei, cara, mas espero que as coisas comecem a melhorar, principalmente no Brasil."
Ela se refere à batalha contra a pandemia de coronavírus, que está em diferentes patamares pelo mundo –o Brasil, por exemplo, registra mais de 450 mil mortes pela Covid-19. "Pelo menos nos Estados Unidos, temos mais vacinas agora", lembra. "É estranho cada lugar estar em um patamar diferente. Eu tomei a minha segunda dose recentemente, gostaria de poder mandar vacinas para vocês."
A cantora diz que tem saudades de tocar com a banda no palco e de interagir com o público. No último ano, desde que a pandemia impediu que ela continuasse lotando as casas de show por onde passava, ela se recolheu um pouco.
"Meus filhos são pequenos [eles têm 7 e 4 anos], então nós passamos esse tempo tentando mantê-los ocupados", brinca a cantora, que costuma ser bastante discreta com a vida pessoal. "Estou tentando lembrar de algo que fiz por mim mesma, como exercícios, mas é difícil (risos)."
Além disso, ela produziu o novo álbum ao lado do engenheiro de som Jamie Landry. O trabalho traz 14 faixas, que cobrem praticamente toda a carreira de Jones. Do primeiro hit, "Don't Know Why", aos singles mais recentes, como "I'll Be Gone".
A cantora confessa que nem ela mesma sabe por que ainda não havia lançado um álbum ao vivo. "Eu já lancei alguns DVDs com gravações ao vivo, não sabia que não tinham saído na versão álbum", diz Jones, aos risos.
Ela comenta, porém, que há uma particularidade importante no novo trabalho. "A diferença deste projeto é que ele não foi pensado para virar um registro ao vivo", comenta. "Nós escolhemos alguns momentos de vários shows, porque gravamos tudo, já que a tecnologia é muito fácil."
"O que eu amo é que as pessoas estão desarmadas, diferentemente de quando tem uma equipe com as câmeras para gravar um DVD", comemora. As gravações foram escolhidas a partir dos shows realizados entre 2017 e 2019, em países como Estados Unidos, França, Itália e Argentina.
O Brasil, no entanto, é o recordista. Seis dos registros foram feitos no país –sendo cinco deles no show realizado em 13 de dezembro de 2019 no Vivo Rio (zona sul do Rio de Janeiro) e uma apresentação de 9 de dezembro do mesmo ano no Espaço das Américas (zona oeste de São Paulo).
"Nós basicamente escolhermos as versões favoritas de cada música, ou a que tinha alguns músicos específicos na banda naquele dia", explica a cantora. "Primeiro, eu me apaixonei pelo show do Rio e quase acabamos usando tudo de lá, mas depois acrescentamos gravações bacanas de outras apresentações."
E por que o show em terras cariocas foi tão especial? "O show no Rio foi um desses momentos que você sabe que serão memoráveis enquanto ainda estão acontecendo", elogia. "Tocamos muito bem e o público estava muito caloroso, foi uma sensação maravilhosa."
A conexão dela com o Brasil teve muita influência neste resultado. "Eu sempre amei o Brasil e os fãs brasileiros sempre foram muito bacanas comigo", afirma Jones. "As pessoas amam música no Brasil, eles realmente me entendem."
"Eu cresci ouvindo muita música brasileira também, então sinto muita afinidade com o país", continua. "Talvez as pessoas sintam alguma influência disso na minha voz, não sei, mas sinto que a minha conexão com o Brasil é especial."
Sobre o show em São Paulo, ela diz que apesar de ter sido tão bom quanto o do Rio, problemas técnicos fizeram com que a primeira noite não fosse gravada. "Mas eu também tive essa sensação positiva, sempre tenho quando estou no Brasil", diz.
Ela afirma que a escolha das músicas foi similar à seleção feita para uma apresentação de verdade. "Queríamos que se parecesse ao repertório de um show", conta. "Não foi tão difícil porque meu parceiro de produção revirou tudo e me passou as melhores. Eu fui escolhendo a partir daí."
Uma delas é "Falling", composta com o brasileiro Rodrigo Amarante, 44. "Eu conheci o Rodrigo há muitos anos em um show, antes de ir ao Brasil pela primeira vez", lembra Jones. "Ele fez uma lista de coisas legais para fazer, o que eu achei muito fofo, mas não mantivemos contato."
"Há uns dois anos, eu estava querendo fazer colaborações com pessoas diferentes e ele estava na minha lista, então fiz contato e perguntei se ele topava", conta. "Fui à casa dele durante três dias e fizemos duas músicas, escrevemos e gravamos no estúdio dele. Foi muito divertido", elogia. "Me senti muito próxima a ele. Nos tornamos amigos muito rapidamente e foi muito bonito."
O álbum fecha com um cover da música "Black Hole Sun", do Soundgarden. Foi um tributo gravado em Detroit, nos Estados Unidos, poucos dias depois da morte de Chris Cornell (1964-2017).
"As músicas dele estão na minha vida desde sempre", diz. "Quando descobri que a última apresentação dele havia sido no mesmo lugar onde eu faria meu show, pensei que deveria fazer uma homenagem para ele."
A cantora conheceu o ídolo em vida. "Uma vez nos encontramos no camarim de um show beneficente e ele foi muito doce", lembra. "Amo a voz dele, ele era um cantor e compositor incrível. As letras tinham as estruturas mais belas que já ouvi."
Jones ganhou destaque no cenário mundial com seu álbum de estreia "Come Away With Me", de 2002, pelo qual recebeu seu primeiro Grammy (outros 8 viriam depois). Ao longo da carreira foram 50 milhões de álbuns vendidos, além de 6 bilhões de plays em serviços de streaming de áudio.
Apesar de ter sido considerada uma das maiores artistas de jazz dos anos 2000 pela revista especializada Billboard, ela esclarece que não se define pelo ritmo. "Eu não me classificaria como uma artista de jazz no momento", afirma. "Eu me declarava assim aos 20, mas desde meu primeiro álbum peguei referências de tantos lugares diferentes... Amo jazz, é de onde eu venho, mas não chamaria o que faço de jazz."
Em 2007, ela chegou a protagonizar o filme "Um Beijo Roubado", do diretor Wong Kar-wai. Na produção, ela contracenou com Jude Law, Natalie Portman e Rachel Weisz, entre outros. Por ora, ela não sabe se repetiria a experiência como atriz.
"Isso faz tanto tempo!", comenta. "Não sei [se atuaria de novo]. Foi uma experiência maravilhosa. Recentemente, meu filho achou o trailer e ficou assistindo e me perguntando um monte de coisas. Foi divertido, mas parece que foi em outra vida, sabe?"
O que está certo é o desenvolvimento de seu próximo álbum de estúdio. "Estou trabalhando em algumas coisas, mas ainda não sei o que vai ser", adianta.