Morre o escritor britânico Martin Amis, autor de 'Zona de Interesse', aos 73
A morte foi anunciada um dia depois da exibição do longa "The Zone of Interest", no Festival de Cannes. O filme dirigido por Jonathan Glazer foi inspirado no livro homônimo escrito por Amis, um dos principais de sua carreira literária.
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Cultura MARTIN-AMIS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Morreu, na sexta-feira, dia 19, o escritor britânico Martin Amis, aos 73 anos, em sua casa em Lake Worth, na Flórida, nos Estados Unidos. Isabel Fonseca, sua mulher, informou que um câncer no esôfago causou a morte do autor.
A morte foi anunciada um dia depois da exibição do longa "The Zone of Interest", no Festival de Cannes. O filme dirigido por Jonathan Glazer foi inspirado no livro homônimo escrito por Amis, um dos principais de sua carreira literária.
No Brasil, "Zona de Interesse" foi lançado em 2014, pela editora Companhia das Letras. A expressão que nomeia a obra é uma referência ao modo como os nazistas chamavam a área de 40 quilômetros que circundava o enorme campo de concentração de Auschwitz.
Ao todo, Amis publicou 15 romances, um livro de memórias intitulado "Experiência", publicado em 2000, algumas obras de não ficção e coletâneas de contos. À crítica literária, ele é reconhecido pela trilogia formada por "Grana", de 1984, "Campos de Londres", de 1989, e "A Informação", de 1995.
Sua obra se distinguiu pelo tom mordaz com que descrevia o cotidiano de seus personagens. O escritor se interessava, sobretudo, pelo submundo: lojas de fast-food, casas de strip-tease e revistas pornográficas. Para a conquista do próprio estilo, se inspirou nos romances de Vladimir Nabokov e Saul Bellow.
Nascido em Oxford, Amis cresceu à sombra do pai, Kingley Amis, escritor reconhecido por "Lucky Jim", publicado em 1954. Seu pai foi, primeiro, uma influência ensurdecedora. Depois, os dois começaram a seguir os próprios caminhos, tendo entendimentos distintos sobre arte e política.
A suposta rivalidade entre pai e filho alimentava os tabloides do Reino Unido e a curiosidade de todo o leitorado. Com o tempo, Martin Amis foi considerado um dos principais estilistas do pós-guerra.
Nos anos 1990, os mesmos tabloides o tornariam ainda mais conhecido. Em 1994, ele causou celeuma no meio literário ao trocar a agente Pat Kavanagh, mulher de seu amigo Julian Barnes, por uma rival. O episódio causou um estremecimento entre os dois autores. Sua presença na mídia foi estratégica. Em entrevistas, discorria sobre um vasto leque de assuntos -da guerra do momento até o livro que ele lançava.
No que se restringe à literatura, Amis havia publicado dois importantes livro ainda nos anos 1970. "Os Papéis de Rachel" é um romance autobiográfico sobre um jovem sardônico e obcecado sexualmente por sua colega de classe, Rachel.
O relacionamento dos dois se passa ainda no colégio, enquanto os dois se preparavam para a semana de provas. Com o livro, o autor ganhou o prêmio Somerset Maughan e mudou de patamar, ganhando reconhecimento como um nome da nova geração.
Nos Estados Unidos, a crítica, porém, não se entusiasmou tanto com a obra em um primeiro momento, classificando-a como uma "saga de uma adolescência tardia." Em seguida, o escritor lançaria, em 1976, "Bebês Mortos", talvez o livro com o humor mais macabro, sobre consumo de drogas e relações sexuais numa comunidade de jovens que vivia na zona rural.
Entre os americanos, Amis demorou a ganhar reconhecimento crítico e popularidade. No início, ele só era lembrado por outro escândalo midiático, agora envolvendo plágio. Amis acusara Jacob Epstein, filho de Barbara Epstein, a fundadora da The New York Review of Books, de copiar passagens de seus livros "Os Papéis de Rachel" em sua obra "Wild Oats", de 1980.