Tela de Tarsila do Amaral tida como falsa pelo mercado é verdadeira, diz família
Paola Montenegro, que responde legalmente pelo espólio, confirmou a autenticidade da obra
© Filipe Berndt / Divulgação
Cultura Mercado de arte
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A tela atribuída a Tarsila do Amaral que gerou polêmica na SP-Arte, feira que aconteceu em São Paulo em abril, teve sua veracidade confirmada nesta segunda-feira (19), depois de quatro meses sendo considerada falsa pelo mercado da arte.
A sobrinha-bisneta da artista, Paola Montenegro, que responde legalmente pelo espólio, confirmou a autenticidade ao Jornal Nacional, ao lado do perito Douglas Quintale. A Folha entrou em contato com a família, o perito e o galerista Thomaz Pacheco, que tenta vender a obra, e aguarda um posicionamento.
Segundo perícia encomendada pelo comitê de certificação e catalogação, comandado pelos herdeiros, "Paisagem 1925", pintada neste mesmo ano, faz parte da fase "Pau-Brasil" de Tarsila, quando a artista morava em Paris nos seus anos de formação e retratou cenários emblemáticos do país.
A autenticidade foi confirmada após exames físico-químicos e escaneamentos realizados em laboratórios, disseram os envolvidos em entrevista ao telejornal.
A tela foi colocada à venda na SP-Arte por Pacheco –conhecido por representar artistas contemporâneos jovens, não grandes mestres da arte– por R$ 16 milhões, mas teve sua veracidade contestada por marchands ouvidos pela Folha e acabou encalhada.
"Paisagem 25" mostra casinhas em meio a coqueiros e é semelhante a outras pinturas da mesma fase da artista. Segundo o proprietário, que não gravou entrevista ao Jornal Nacional e não quis ter sua identidade revelada em conversas com a Folha na ocasião, a pintura foi um presente de casamento de seu pai para a sua mãe, em 1960.
Ele relatou que sua família, da alta sociedade paulistana, era ligada às artes e conhecia a família Amaral, de Tarsila, embora não fossem próximos. Disse ainda que não seria fácil achar documentos da obra nos arquivos da família.
Segundo ele, a tela estava na cidade de Zalé, no Líbano, desde 1976, para onde sua família se mudou. O quadro teria sobrevivido aos ataques israelenses de 1981, que atingiram sua casa, pois teria ficado soterrado sob um piano e só a moldura teria sido danificada. O quadro mudou de cidade depois dos ataques.
O proprietário contou ter trazido a obra para o Brasil há pouco, por medo de que o conflito de Israel com o Hamas volte a atingir o Líbano, vizinho de Israel.
Pacheco, o galerista, afirmou que a obra não consta do raisonné, o registro de todas as obras realizadas por um artista e que atesta a legitimidade das peças, porque estava fora do Brasil quando o catálogo foi produzido, na segunda metade da década de 2000.